sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Você tem fome de quê?

Estava parada num sinal de trânsito ontem, driblando o sono que me consumia, tentando me manter acordada e, consequentemente, viva, quando olhei para o lado e vi algumas pessoas sentadas numa parada de ônibus. Pessoas destilando debaixo desse sol que deve ter parte com o demo, pois nunca vi tão quente. Nesse momento algo chamou minha atenção, e me despertou do sono, o que foi uma benção, uma cena tão singela e pura que me deixou enternecida.

Dentre as pessoas que estavam na parada de ônibus estava uma moça negra, muito magra, com um bebezinho nos braços que não deveria ter completado seu primeiro mês de vida. Ela ajeitava o bebê o melhor que podia nos braços, tentando inutilmente mantê-lo confortável. Nada parecia satisfazer o pequeno e então, sem maiores cerimônias, a jovem mãe levanta sua blusa e coloca a boquinha do bebê no seu seio e...pronto...como num passe de mágica a criança relaxou seu minúsculo corpo e passou a sugar seu precioso alimento. Nada mais importava para ele, pois estava recebendo, naquele momento, tudo aquilo que realmente precisava: comida.

Um bebê humano é o que de mais vulnerável existe na face da terra. Se ele não tiver a mãe, ou alguém que o valha, para atender suas mais básicas necessidades, não tem qualquer chance de sobrevivência. A tríade: alimento, higiene e calor são as únicas coisas que um ser humano precisa para manter sua vida. Claro que existem outros fatores para seu pleno desenvolvimento, mas quero focar aqui apenas a sobrevivência física.

Naquele momento, observando aquela cena, percebi que nossa vida e nossas necessidades básicas são bem simples em seus dois momentos mais profundos: nascimento e morte.

Precisamos do auxílio de outrem para viver e para morrer - bem, não necessariamente para morrer, mas para deixarmos essa vida com um mínimo de dignidade - e que todo o enxerto que existe entre esses dois momentos é que complica todo o meio de campo: contas a serem pagas, stress desnecessários, protocolos regras a serem cumpridas e blá, blá, blá, tudo isso é apenas o recheio de nossas vidas, a parte que dá trabalho.

Vendo aquele bebê mamar pensei em como temos uma capacidade, quase ilimitada, de complicar o simples, de estragar o fácil.

E então, quebrando todo o encanto daquele momento o sinal abriu e eu, seguindo bovinamente as regras, acelerei o carro e segui meu caminho de contas à pagar, protocolos e blá, blá, blá...

Um comentário:

Bloguinho da Zizi disse...

Menina
Esta tua fala:
"Vendo aquele bebê mamar pensei em como temos uma capacidade, quase ilimitada, de complicar o simples, de estragar o fácil."
é bem verdadeira e certeira.

O ser humano consegue...
O que mais precisará acontecer para soltarmos essas amarras que nos consomem....????

Bom...., seguindo o fluxo.... te desejo um bom carnaval, ou pelo menos um bom feriado.

Beijinho