quinta-feira, 19 de março de 2009

A morte da Dra. Perfeita

Que essa história que o câncer muda a vida da gente muda mesmo.
Eu era a Dra. Perfeita.
A Dra. Perfeita era esposa, mãe, criadora de cães, dona de casa, patroa, empregada em tempo integral e, de quebra, o apelido era Severino (sabe aquele da Zorra Total que vive quebrando galhos??). Pois é vivia quebrando galhos prá uma cambada.
A Dra. Perfeita ficou 6 anos sem sair de férias.
Ah, ia me esquecendo, tomei anti depressivos durante um ano antes de descobrir que tinha câncer.
Depois do câncer as coisas mudaram.
Hoje se der eu faço.
Se eu quiser eu faço.
Se não der...dane-se. Em primeiro lugar minha corrida e minha musculação, meu blog, meu ócio. Se der tempo de mais alguma coisa vou pensar se à fim.
Continuo fazendo tudo o que eu fazia antes, mas agora o lema é: Primeiro eu!!
Minha casa já não é tão brilhante e nem faço questão. Minha prioridade agora são as coisas que eu quero e gosto de fazer.
Pessoas também são um fator determinante nessa fase pós-câncer. Separa-se o joio do trigo e corremos prá galera - do bem...
Descobri, à duras penas, que sou responsável apenas por mim mesma e que dar uma de indispensável prá todo mundo dá câncer. Além de muita dor de cabeça.
Gentileza gera gentileza e se não for gentil comigo espere reciprocidade. Ela virá.
Não confunda isso com insensibilidade. O câncer também desperta uma gama de sentimentos controversos que me deixam pasma de vez em quando. Além de ser a Dra. Perfeita eu era também, a Sra. Sequinha, raros eventos me molhavam os olhos. Hoje sou mais solidária com a dor alheia, tenho mais empatia, mas ainda não virei boboca e nem caio no canto da sereia.
Hoje a Dra. Perfeita descança em paz.
Mari, por sua vez, está muito envolvida com seu próprio umbigo prá dar bola prá coisas que não são de verdade, gente que não é de verdade e fricfrics alheios.

6 comentários:

CarolBorne disse...

Guardadas as devidas proporções, eu tinha sonhos recorrentes. Sonhava que precisava alcançar alguma coisa, mas não conseguia levantar do chão, nem andar. Os meus joelhos se dobravam e eu acabava não chegando ao objetivo. Eu era INCAPAZ de andar com as minhas próprias pernas, que doíam no sonho. E não, isso não tinha nada a ver com realização profissional, saúde, ou qualquer outra coisa que faça sentido assim de cara. Tinha a ver com a minha incapacidade de realizar os sonhos românticos, daqueles que incluem um grande amor. Tinha a ver com a minha absoluta falta de habilidade em me amar de verdade, independente de viver um'grande amor'. Levei a vida toda desejando feito louca a reciprocidade do amor romântico que eu doava. Eu mendigava e me submetia a tudo o que eu sempre condenei(pode?).
Então veio a trombose e me impediu de continuar me anulando desse jeito. A doença trouxe a cura inesperada. Eu sou quem eu sou, me amo e é recíproco. Descobri com aquele coagulozinho FDP, que deixou sequelas na minha panturrilha esquerda, que é total e completamente possível ser feliz sem depender do 'amor' de outra pessoa. Foi privada do movimento completo da minha perna que aprendi a caminhar de volta pra mim.

A dor ensina a gemer. Certo, Mari?

Cib disse...

Mari, adorei teu blog.
Adorei, mesmo, de verdade.
Vou voltar sempre, e espero a tua visita mais vezes.
Sobre as postagens, acho que nao sobrou muito pra eu dizer, já disseste tudo! Só pra te confirmar, me atrevo: dores, perdas, renúncias e revoltas são processos que podem nos levar pra vários caminhos. Ainda bem que a tua lucidez fez com que esses processos todos te levassem à tua descoberta, segurança e afirmação (precisa construir uma senhora segurança pra ser capaz de dizer "primeiro eu"). Pena que em muita gente boa esses mesmos processos acabam dando em autopiedade, mágoa, amargura...
Enfim, pra encerrar, acho que dá pra dizer que os pedaços que a dor nos tira revelam o que a gente é por dentro. E eu gostei, muito, muito, do que vi de ti aqui.
Beijo!

Anônimo disse...

Cibele,
Nossa, melhor complementação impossível: "Os pedaços que a dor nos tira revelam o que a gente é por dentro". Gente, isso é de uma profundidade oceânica. Obrigada.

CarolBorne disse...

Cibele é uma guria TUDO DE BOM!
Fico feliz que a blogosfera tenha esse poder tão maravilhoso de aproximar as pessoas de um jeito inevitável.

Simone disse...

Onde é que eu assino embaixo?

Quando a vida dentro de mim se tornou possivel disse...

Amiga, sem pedir tua autorização, estou levando este post para meu BLOG "Eles e elas escreveram ...
Vai lá ver ok? UM BJÃOOOOOOOOOOOOOO